Isso é um Não-relacionamento



Depois de o poliamor surgir para quebrar as limitações sexuais e afetivas exclusivas a um casal, quem chega com tudo nesta estação como tendência para pessoas que adoram novas opções de relacionamento são os trisais.

Trisal. "Casal" de três. Três pessoas que se comprometem entre si. Pronto. Essa é a única regra para a formação que cai bem para quem possui a mesma sexualidade ou não e sem limitação de quantidade de gênero para essa composição. Podem ser duas mulheres e um cara, um para duas, três homens, três mulheres, todos gays, todos héteros, um bissexual no meio de um gay e outro hétero e aí são, quase, infinitas possibilidade.

O "quase" é porque a falta de norte das pessoas realmente pede algumas definições. Por mais que fuja do convencional, o trisal é mais um rótulo para mais um tipo de relação que quer direitos e deveres, pela lei, para a relação com os familiares e, especialmente, entre os que formam o trio.

O ponto é: se até relações não convencionais precisam de um título e alguns combinados para atender à expectativa, o que fazer com relacionamentos que não pretendem ser exatamente um relacionamento?

O Não-relacionamento é justamente para as pessoas que não pretendem ser um casal, trisal, quadrisal nem bacanal.

Duas pessoas se conhecem, se curtem, transam, vão ao cinema, bares e shows, não sentem a necessidade de ficar com outras, mas, claramente, não se colocam como um casal. Namoro? Só se for algo dito somente entre os dois. Nada de declarar como tal para as famílias e em redes sociais.

Neste esquema, o que é possível definir quando a intenção é exatamente não ter nada definido?

Imagine que em uma noite de sábado, o seu Não-relacionamento te manda a seguinte mensagem: "O pessoal me chamou para ir àquele bar novo". Só isso. Nada mais. Nem sinal de "digitando..." na tela em sua mão.

Vamos lá. A - Essa pessoa só está te comunicando que os amigos chamaram para o tal bar. B - Ela está dizendo que a convidaram e que ela vai. C - Ela vai e não quer que você vá. D - Ela vai e quer que você vá com ela. E - Ela não quer ir mas se você mostrar interesse em ir, ela vai. F - Ela não quer ir e quer que você também não queira ir porque, na verdade, o que ela quer é ficar em casa com você.

Considerando a proporção de pelo menos seis respostas diferentes para um comentário, a conversa aberta e às claras é sempre o melhor caminho.

Acontece que, se isso é um Não-relacionamento, qualquer opinião ou vontade pode parecer cobrança ou indiferença. Se a má interpretação rola até entre relacionamentos em que a cerca da limitação aos envolvidos é novinha, pintada e bem colocada, imagine em uma situação em que o único limite é o tal "Eu simplesmente gosto de estar com você".

Eu tive uma experiência de dois meses em um Não-relacionamento. Nos conhecemos pessoalmente, casualmente - e esse, para mim, ainda é o jeito mais gostoso de se conhecer alguém. Um primeiro programinha, conhecer o apartamento um do outro, sexo, então cinema e até encontrinhos com alguns amigos junto. Tudo com troca de carinhos, mãos dadas, selinhos aqui e ali. Uma leveza bem delícia que eu gostaria de viver um milhão de vezes nessa vida. Em meio a isso, o contrato assinado por ambos que diz "Não estamos dispostos a namorar".

Ao mesmo tempo que não queríamos ser um casal, também não ficávamos com outras pessoas e, nada imposto, era apenas a sensação de estar completo com uma companhia que não seria o seu companheiro.

Acontece que quando o Não-relacionamento de encontros em todos os dias do fim de semana começa a desencontrar, é impossível não pensar nas expectativas e então cair sobre o não-casal a consideração de mudar de título. O "vai ou racha" se torna o "chega mais para cá" ou "melhor deixar pra lá" como opções para tirar este Não-relacionamento do limbo.

Não éramos PAs (paus amigos), Amizade Colorida, Casinho ou Contatinho. É no meio disso que está o Não-relacionamento. É mais que somente sexo e é menos que "Esse é o Fulano" durante o almoço de família.

Com a experiência, concluí que os não-relacionamentos me fazem bem, se você souber que eles simplesmente não vão durar. Aproveite sem neura e então deixa ir. Seja para se formar um casal ou duas pessoas que decidiram não se pegar mais. E eu sinceramente acredito que aqui surge uma amizade.

É melhor combinar o jogo. Que todo mundo possa ficar com todo mundo ou que ninguém fique com mais ninguém porque as regras de cada um desses dois acordos orientam cada tipo de relação. 

Se não for assim, definitivamente se trata de um Não-relacionamento a dois que será uma legal, mas que, sem o mínimo de critérios para ser regado, vai morrer, afinal, me apresenta um ser humano que não seja desnorteado o bastante a ponto de viver sem algumas definições para organizar melhor a sua vida. Me inclua nessa. 




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Comentários

Carla Rodrigues disse…
Ahhh esse texto me define e ao mesmo tempo da medo. Aquele tô ou não tô com aquela pessoa ? O que será que ela vai achar se eu fizer isso ? E assim vai ....perguntas de um "relacionamento " porém ambos vivem um "não - relacionamento" ����
Ai, Carla... Só na conversar mesmo, no pé ante pé, na percepção de cada movimento das duas partes e então sabermos o quanto a situação nos oferece o que buscamos ou não. Adorei seu comentário! Obrigado.
Anônimo disse…
Eu vivi alguns não-relacionamentos e de fato eles duram pouco. O ser humano não consegue ficar confortável com situações indefinidas. Eu tiro por mim, toda vez que a pessoa do lado gerava expectativa e sonhava com um passo a frente eu perdia completamente o interesse. Autodefesa? Autosabotagem? Não sei. Eu penso que dura o que tem que durar. Já estive do outro lado e ao perceber que o passo a frente não rolaria, também perdi o interesse. Eu sempre soube o que queria em um relacionamento. Bem ou mal, um não sincero era a palavra chave para um próximo não-relacionamento ou namoro. Quando namoro tem algo mais ali que não existe e nunca vai nascer com pessoas que se encaixam no perfil de não-relacionamento. A gente sabe que são bacanas e tudo, mas prefere estar consigo mesmo. Indisponível pro amor e tudo que vem com ele e naquele momento não estamos afim. E olha, tudo numa boa pra mim. Não acredito no príncipe, mas acredito muuuuuito que a cada experiência eu sei ainda mais o quero do que o que eu não quero. Acho isso uma delícia! Ser amigo pós não-relacionamento exige um certo grau de maturidade que é para poucos. E embora eu consiga criar uma página de amigos eu recomendo distância do passado para que novas experiências e trocas venham.
Gente... Por favor, quem é você? Hahaha Que clareza. Sensacional. Obrigado demais pelo comentário. Foi um acalento aqui hahaha. E destaque para o ponto que diz sobre o existir “algo mais ali” que leva ao namoro e que não existe nem vai existir no não-relacionamento. É realmente verdade. Um excelente tira-a-teima para saber onde, naturalmente, aquilo vai dar.
Anônimo disse…
Certamente esse titularizado "nao-relacionamento" nem de longe me parece ser um tipo categorizado de relacionamento, a menos que consideremos ao pe da letra sua grafia e o substantivo "relacao" que pode envolver duas pessoas ou mais...

Aos meus olhos, trata se apenas de um "contrato verbal" cheio de mistérios, inconsistências e clausulas em sua quase totalidade injustas para pelo menos um dos envolvidos, se resume em uma simples troca que nem sempre mesmo se tratando de tais "nao-relacionamentos" acontece: Satisfacao de prazeres e necessidades!

Resumidamente em sua grande maioria, se trata de um restício traumático não superado, inexperiência, imaturidade, ou mesmo filosofia de vida existencial...

Mas livre arbítrio nos foi dado para escolhas realmente feitas individualmente! Sem necessidade de cabíveis julgamentos...

O problema ocorre quando uma ou ambas as partes confunde satisfação de prazeres e liberdade com sentimentos nobres como o Amor...

Investir em um "não-relacionamento" torna se assim um risco tamanho, a ponto de destruir expectativas, sonhos e ate vidas por completo...

Falando de humanidade, quando se tem de fato uma relação" seja de qual tipo for, se tem o envolvimento/troca de algum sentimento que por sua vez ultrapassam a superficiabilidade...

Contudo o "não-relacionamento" acaba por ser uma válvula de escape da solidão, medo de qualquer ser humano, ate mesmo os mais durões... Afinal, quem ai não quer um Amor de verdade? Pra vida toda...

Talvez seja hipocrisia, ou algo semelhante... Mas são apenas pontos de vista pessoais meus, diante de experiencias por mim acrescidas a Vida aroveitando-se do trabalho incrível de um escritor sensacional...

Parabéns... Seus textos são sempre muito bem estruturados, o que faz com que o leitor saia de qualquer tipo de zona de conforto existente, aguçando o extinto de se expressar...

Abraços,
L.F.