Uma amiga ficou desnorteada a procura
do seu elástico de prender o cabelo. Jogou as madeixas para o topo da cabeça,
segurou com uma das mãos e rodopiava com os olhos vidrados no chão,
desesperada, feito quem acabou de perder uma nota de cem.
Foi quando, já desistindo, soltou que
tem um pacote das tais maria-chiquinhas favoritas em casa porque morre de medo
de ficar sem, de um dia elas acabarem.
Ela tem dificuldade para jogar uma
garrafa de água fora. E estou falando da garrafa vazia, ok?
Pede ajuda em casa para acabar com os
seus shampoos. Acumuladora? Não. Só fica com dó de que as coisas terminem. Diz
que tem maquiagem que guarda desde os seus 15 anos. “Eu não consigo acabar com
nada”.
Das gavetas e prateleiras da minha
amiga para os sentimentos e pensamentos de todos nós, há quem termine situações
com a mesma facilidade que borrifa a última gota de um perfume importado. Ou
até mais indiferente.
Há quem desfaça um relacionamento de
anos sem ao menos olhar para a pessoa. Em um telefone. “Alô, oi, estou ligando
para terminar com você”. – “Como assim?”. – “É só isso que tenho para falar.
Tchau”. E nunca mais atende as ligações do outro.
Em tempos de smartphones, quem precisa
de um telefonema? Termina por mensagem mesmo. Nem precisa ser de áudio. Sete
toques na tela: A-c-a-b-o-u-Enviar. Fizesse pelo menos uma chamada de vídeo,
né? Pelo wifi a qualidade é boa e não gasta seu pacote de dados.
Pior que a dificuldade para terminar é
a facilidade de evitar algo. É inacreditável o desconforto das pessoas para
certas conversas pessoalmente.
Pede-se o presente de aniversário e
não se pede desculpa. Comemora-se o aumento de salário mas não o novo dia que
começa ao lado de quem se ama, afinal, qual seria a ocasião?
Termina-se a história de tempos em um
emprego só porque ali havia gente difícil. Não se começa uma nova oportunidade
que pode oferecer mil outros benefícios de trabalho ao longo do tempo, afinal,
estamos estabilizados onde estamos.
Talvez seja mais fácil pedir para que
alguém passe a última pontinha de batom pela gente, beba o gole no fundo da
taça, use pela última vez a jaqueta, diga adeus para quem não vai voltar.
Pode ser melhor que terminem pela
gente, mas então nunca saberíamos em que é preciso nos adaptar quando jogarmos
o frasco do shampoo fora e descobrir que temos que passar a contar com um
produto diferente do de costume porque não se encontra mais aquela marca no
mercado.
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Comentários
É foda encerrar ciclos, mas só assim se começa de novo. Adorei!
E que bom que curtiu, leitor Anônimo Enigmático (adoro um mistério rsrs).
E 'bora' recomeçar, sem medo!