A vida mostra






















Da primeira letra que digito até a segunda leitura que faço antes de postar, levo a média de 40 minutos para publicar um texto como este. Se fosse na semana passada, chegaria a duas horas de redação. Mal do corpo, indisposto, cabeça pesada e aquela ida constante ao banheiro que só uma boa virose em clima seco nos oferece.

Da virose, gripei. Dá-lhe coriza. Nariz não parava. A tosse até hoje me dá um oi quando dou uma risada mais forte. Dez dias descontrolados. Na vigésima vez que assoei o nariz, ali se foi uma boa dose da minha autoestima, amor próprio, segurança e independência.

Na série Sex and the City, a personagem Samantha Jones (fabulosa Kim Cattral) – avessa a relacionamentos – chega a cair de gripe em um dos episódios e, enquanto arde em febre, assume para a melhor amiga, Carrie (Sarah Jessica Parker), que, no fundo, no fundo, toda mulher precisa de um homem. Febre alta ou uma das verdades que só a fragilidade nos faz confessar? Passada a gripe, Samantha mantém erguida sua bandeira de independência até o fim da série, dos filmes da franquia. Ficção?!

Não sei se foi a virosipe – nomeei assim o meu combo "Não adianta remediar, a gente vai te derrubar" –, se foram os quase seis meses vivendo e morando completamente sozinho, se a aproximação dos 30 anos, se as mudanças e demissões na empresa, ou simplesmente a soma do que vivi até aqui, mas eu definitivamente mudei o meu jeito de ver muita coisa nos últimos tempos.

Eu preciso de amor. Sem febre, sem remédios, eu confesso. O amor próprio, sozinho, não nos tira do lugar. É, sim, preciso tê-lo para que a gente não se perca. Mas na dose certa. Ele no controle, sem co-piloto, pode até nos fazer cair uns bons milhares de pés de altura. Ou, no mínimo, nos limitar. Amor que vem de fora, quando recebido com uma bela entrada, muda a gente. Muda para melhor.

E falo de amor não só de casal. Falo também do amor que é a humildade, a gentileza. Amor de amigos que não competem entre si, que se ajudam. Amor de família que não julga. Amor de um parceiro que nos recebe. Que nos recebe sempre, do jeito que for.

Preciso – principalmente – do amor que eu tenho que aprender a dar. Amor do qual eu mais ouço sobre a outra pessoa do que falo sobre mim. Amor em que primeiro eu entenda o que ele precisa, para depois assimilar o efeito que essa doação causa em mim. Amor que elimine a minha ignorância de achar que se não for do jeito que eu (sozinho) sempre acreditei ser, então não serve. Que não me coloque em primeiro nem segundo no relacionamento, porque quem ama não vive em ranking.

Descobri que quem tudo quer, nada ama. A avareza afasta nos amor. Descobri que quem olha o outro com a expectativa do que há em si mesmo, jamais poderá vê-lo de verdade. Se penso do jeito que penso, nunca vou ter a sorte de conhecer verdadeiramente o jeito de pensar que ele tem.

Álcool e amor não combinam. O amor equilibra, enquanto a bebida em excesso intensifica aquilo para o que estamos dispostos naquele momento.

Passei a entender que o amor causa dúvida, sim. Afinal, toda certeza nos emburrece. Mas que, diante da dúvida, o amor pede insistência, não solução instantânea. Não desistência, não ideais.

Pelo o que vive, achava que a paixão se transformava naturalmente em amor. E que a paixão por sua vez, surgia sem poder de influência algum dos dois envolvidos. Tudo espontâneo. Errei. 

Amor, paixão e tudo o que possa surgir em nossas vidas, só acontece a partir da nossa disposição. E o amor, em especial, ainda pede uma boa, humilde e gentil soma de dedicação.

Sou resultado do que experimentei até esse dia. A gente sempre aprende algo em tempo de mudar um pouco ali na frente. Porque, de um jeito ou de outro, a vida mostra.



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