Aberto para enxergar


Depois de meses fechado para balanço, o portão se abriu. Eu mesmo o tranquei, mas não fui eu quem o abri. Tentei fazer isso antes, mas não encontrei a chave. Planejei até uma inauguração. Pensei em dar uma festa, mas estava sozinho. E nada da chave. Hoje, quando cheguei ao cadeado, ele não estava mais aqui. O portão está livre.

Enquanto estive trancado do lado de dentro, fiquei comigo. Tudo o que via era através de grades. Frio e distante como eu precisava. Eu comigo e meus valores. Os certos. Que nada. Talvez essa tenha sido a chave. Muitas vezes julguei quem passou pelo portão e outras vezes recebi olhares de indiferença. Apontei o dedo e critiquei. Apontei o dedo, mas não falei. Quando não apontei mais o dedo, eu avaliei.

Não adianta, eu confesso: fui e voltei. Quando achei que estava certo, me machuquei em minha própria confiança. Éramos só eu ali. Éramos. Eu vários.
Acusei e paguei. Ofereci e recebi. Tudo ali dentro. Acertei e errei. Melhorei e piorei. E só ao ver que o portão se abriu quando eu menos esperava, quando não planejei, eu pensei: para que estamos?

Este poderia ser um novo texto sobre comportamento e relacionamento. Temas que desenvolvo com muito gosto. Esse texto poderia agradar mais. Talvez seja decepcionante. Agradar é sempre decepcionante se não há boa intenção.
E de que adianta viver sem consciência, escrever sem sentir? Em vez de fechado para ver, estou aberto para enxergar.

Tudo, exatamente tudo que plantamos, nós colhemos. E quem disse que é clichê? O clichê é previsível, certo? Então por que as pessoas não prevêem isso? Por que vivem de forma tão inconsequente?

Qual a razão de fazer isso a ele? Amanhã você saberá. Cedo ou tarde. E o que te disseram de ruim, no próximo dia você usará a seu favor. Mesmo que não perceba. Não seja arrogante, afinal, amanhã pode ser que um médico seja com você. Esteja aberto e consciente. Não é para ser feito de bobo nas mãos dos outros, mas é para não haver maldade.

Qual o motivo deste blog e seus textos e você aqui acompanhando? A influência? Após meses fechado para balanço, abri para enxergar. Abriram. E no caminho em frente ao portão agora há espelhos. Estes interagem comigo de maneiras diferentes, mas sempre há meu reflexo neles. Em cada um que cruza meu caminho.

Será que além de mim as pessoas também vêem seus reflexos nos outros? Será que vêem seus próprios reflexos quando eu surjo em frente a elas? Pois eu me vejo nessas. Nesses. Reflexos.

Estou à vontade para fechar para balanço sempre que preciso. Ou sempre que algo me empurrar para dentro do portão novamente e o cadeado ressurgir trancado. Consciente ou não, não importa. Outra vez algo mudou. E quem deve estar sempre em alerta, já está: a vida.

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* Confira o texto “Fechado para balanço” escrito no VJ em dezembro de 2010.
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Comentários

Rodrigo Ziviani disse…
Precisei ler seu texto mais de uma vez para conseguir entender do que estava falando. Também tive de reler o outro, do contrário continuaria boiando. Acho, na minha humilde interpretação, que você está desabafando sobre a postura que adotamos em relação às amizades, certo? O lance de se trancar de vez em quando é normal e necessário. Questão de auto-preservação e auto-conhecimento. Muitas vezes nos deparamos com a triste constatação de que, apesar dos amigos, estamos mesmo sozinhos. Mas quer saber? Ame seus amigos, aceite as limitações e não espere nada, aboslutamente nada em troca. O amor e a amizade, quando verdadeiros, são incondicionais. Desde que me dei conta disso, parei de sofrer. E passei a curtir muito mais as companhias, quando elas se fazem disponíveis. Mas nunca se esqueça de que, no fim das contas, será sempre você com você mesmo. Bjo!
Unknown disse…
Fiotinho, amore mio (agora tô atacando de italiano também! Cê guenta?!). Olha, só queria que vc soubesse que respeito muito seus portões, seus cadeados e até suas chavezinhas emperradas...e vou estar sempre aqui, nessa blogosfera louca, prontinha pra ler, entender e ouvir seus sinais de fogo. Ops, isso é música da Preta Gil (Ana Carolina)1 hehehe...foi só pra vc rir, capitche??!!!Te adoro, lindoooooooooooooooo! Bjo grande da mamãe.
Ro! Muito bom: "ame seus amigos, aceite as limitações e não espere nada, aboslutamente nada em troca", é isso mesmo. Este pensamento acalma qualquer coração.
Você pegou mesmo a proposta dos textos. Você é sempre ótimo! Hehe
Mas confesso que acho triste pensarmos que "no fim das contas, será sempre você com você mesmo", apesar de ter certa verdade nisso. Vamos vivendo né, branco? Rsrs; bju.

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Mamãe italiana comediante... hehehe, num guento não sÔ!
É engraçado como seus comentários sempre me trazem um gostoso sentimento de conforto e segurança. Coisa de mãe de blog! Hehe.. um beijão, lindona!
Fernanda disse…
Eu estou pra dentro do portão com muitos cadeados e chaves perdidas, por tempo indeterminado.

Forever Alone!

Beijas

PS. Dia do beijo hoje, pra mim é beija, portanto muitas beijas pra vc.
É isso aí, Fer. Cura a sua condição!

Por que beijA? Rsrs

Mas, tudo bem, beijAS pra você também. Hehe
Cris Paulino disse…
Matheus, primeiramente quero agradecer sua visita ao meu blog. Fico lisonjeada, afinal pelo o que vi no seu blog você manda muito bem nas palavras.
Adorei esse texto e me identifiquei muito com ele. Você ousou de sensibilidade e conseguiu escrever o que muitos sentem: A necessidade de entrarmos para dentro de nós.
Aí num belo dia de sol, no qual consegue prestar atenção até nos cantos dos pássaros, vc abre a porta e a janela e vê que apesar de tantas coisas feias no mundo vc continua achando tudo lindo, até que alguém o empurre de volta para dentro...
Parabéns pelo blog!

PS: também to tentando virar Jornalista!!!
Cris, eu quem agradeço sua presença no VJ! Seja MUUUITO BEM-VINDA, com FORÇA!

Essa necessidade de fecharmos por um tempo é natural, frequente e saudável, né? O melhor de tudo é termos essa consciência e sabermos usar disso.

Sobre o "virar" jornalista, verá que esse disafio será diário hehe. Jornalista está sempre virando e SE VIRANDO.

Um beijOuL, Cris.