A começar por uma leitura

Há tempos sem postar algo no blog, passadas as férias no trabalho, volto aos poucos. A começar por uma leitura fácil até que retome os textos fora do emprego.

“Então, confessei: Fabi, na verdade, gosto de fazer supermercado pensando no que a outra pessoa gosta, gosto de dar presentes, cozinhar, ficar em casa vendo tevê num sábado quente ou chuvoso e jogar gamão, tranca, buraco, xadrez par-ou-ímpar, de ver eclipse da janela, a outra se vestir e escolher com ela as roupas, de ser aquele cara que julga se está bom ou não, se ela devia sair de cabelo preso ou solto, de botas ou sandálias, de saia ou de vestido, de sinto ou sem, com colar ou sem, com brincos de prata ou ouro, se dá para ver a marca da calcinha, sou aquele cara que gosta que gosta de sentir o mesmo perfume na nuca todos os dias, que gosta de passar xampu no cabelo da mulher, que gosta de passar os dedos nas dobras dos braços, na barriga, de enfiar o dedo na boca e orelha dela, de falar besteira durante o sexo, de beber vinho e trepar na sala, de dar sorvete na boca ou comer juntos todo o pote de uma só vez, de ficar a noite no escuro, sem acender as luzes, ouvindo todas as músicas marcantes da vida, de alugar três DVDs e não assistir a nenhum."
"Não tinha mais pena no seu olhar. Continuei: E como é bom lavar a louça a quatro mãos, com aquele detergente neutro e a água quente se misturando com o azeite da salada, e depois passar a espuma do detergente na cara dela, de nos beijarmos e abraçarmos com a mão toda lambuzada, de ficarmos um no colo do outro na piscina, de nos deitarmos na varanda em dia de calor, de passarmos protetor solar, hidratante, de falsificar a assinatura do outro em boletos, de lermos juntos os resumos que saem nos guias dos jornais, de dividirmos uma pipoca, um chocolate, um biscoito Globo doce ou salgado, um coco na praia, uma água com gás, umas gotas de dipirona sódica, uam maçã, uma perna de carneiro, um pudim de leite, uma vitamina C, a rotina a cama, a raiva, o encanto, uma piada, um pôr do sol, a escova de dente, uma caneta, um livro, angústia, uma dúvida, um sonho, um projeto, uma fofoca, um torpedo, um momento...”

Trecho do livro A Segunda Vez que te Conheci, de Marcelo Rubens Paiva.

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